sábado, 2 de julho de 2011

Ciência e conhecimento



É abusivo reduzir conhecimento a ciência, como é abusivo reduzir o que quer que seja a conhecimento. Nada se deixa reduzir a conhecimento porque o conhecimento, a bem dizer, nem sequer existe. O método científico como método para obter conhecimento permite-nos conhecer, de certo modo, coisas e fenómenos, mas não de todos os modos possíveis ou prováveis. Permite-nos conhecer, até certo ponto, fenómenos como as religiões, a fé, as crenças, a matemática, a trovoada, o efeito do atrito no movimento dos corpos, etc..., mas não nos permite conhecer, por exemplo, como as coisas seriam se não fossem como são. Neste caso, se me faço entender, as nossas conjecturas ficarão à espera da confirmação pela experiência. De mais a mais a ciência e o método científico, não são senão isso, processos de linguagem e de pensamento cuja neutralidade afectiva, estética, valorativa, ética, há-de ser garantida. E não é assim porque não existam afectos, emoções, valores, sentidos. Então é porquê? Deixo a pergunta.
Com a mesma força, ou mais, com que o método científico exige neutralidade, as religiões exprimem e realizam os afectos, as emoções, os valores, os sentidos, a fé, as crenças. E não são menos racionais e inteligentes e essenciais ao homem. Por outro lado, se a ciência lograr explicar tudo, não será por isso que ficará em condições de tudo poder experimentar, ou sequer observar, porque as coisas são como são e não porque têm de ser como são.


sábado, 16 de abril de 2011

Nem tudo merece defesa

Se tudo é defensável, nem tudo merece defesa. A escolha é de cada um. A mim não interessa gastar o tempo senão com o que merece que o faça. Tratando-se de Fé, o diletantismo é quase sinónimo de infantil exibicionismo. Tolerável, é claro. Até pode ser daquelas partidas a feijões para ver quem leva a mão cheia. Mas uma vitória é sempre uma derrota, mais ainda em jogos de palavras e de diletância. Não conseguimos persuadir o "adversário". Nem a nós próprios. Quando muito, o júri. Pelos motivos e pelas razões que eles lá sabem.

Há coisas em que nunca terás razão e, embora te custe ouvir e mais admitir, revelam o teu carácter: os ataques injuriosos àquilo e àqueles de quem não gostas.
Dizer que discutes ideias e não pessoas é fácil, dizê-lo é um capricho como outro qualquer. Mas a questão não é essa.
De ideias, pouco. De pessoas muito, ou quase tudo.
Por si sós, as ideias não possuem valor nenhum. Sem as pessoas as ideias sequer existem.

quarta-feira, 30 de março de 2011

A verdade e a mentira



Uma religião ao ser perspectivada «de fora» é reduzida a objecto que,   enquanto tal, não lhe corresponde. O crente sabe que o essencial da sua   religião não é o que ele pensa, mas o que ele faz e sente e testemunha, não   apenas com palavras. Todo o pensamento se torna possível a todos, toda a   palavra pode ser por todos usada, mas a Verdade é virtude e não existe nas   palavras, nem nos livros, nem nas enciclopédias que explicam o que é a   Verdade. E é com a Verdade que o crente se confronta, não com a verdade de   uma fórmula, de um juízo ou de uma conclusão, mas com a virtude de ser   verdadeiro, em tudo. O cristão sabe que o amor é a verdade, o amor à verdade não é só o primeiro mandamento, mas é a Lei. E a verdade é Deus e Deus está no mais pequenino de nós. O amor à verdade pode não estar no cientista, no filósofo, no literato, no político, no investigador, mas está no cristão. Ou não está a ser cristão.
Aliás, aposto que, se Jesus Cristo não tivesse existido, o Novo Testamento,  enquanto texto inventado, ganharia uma importância que não lhe é  reconhecida. Enquanto texto inventado, ser-lhe-ia tributada uma atenção e um  valor que tem, mas por outras razões. Mas são os próprios evangelistas que  não se assumem senão como relatores.

Não obstante, tudo o que puder contribuir para desiludir e desenganar e deitar  por terra a mentira é bem vindo a quem não desespera da causa da verdade,    que só teria a desesperar da causa da mentira e dos mentirosos. 


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Dogmas



De quando em quando a quem
Preza ciência filosofia e arte
E como discípulo estuda
Em busca de verdade
E interroga serenamente
A realidade e os saberes
Deparam-se peremptórios
Ateus agressivos
Com os dogmas do partido
Do ateísmo militante
(E seus deveres )
Querendo abolir por decreto
Todos os mistérios
Proibir a filosofia e a investigação
Por inúteis e supérfluas
As artes e a religião
Por serem ignorâncias
Não saberes
E isto acontece
No século XXI da era cristã
Em que a humanidade
Com inteligência e mente aberta
Aspira à descoberta
Da Verdade.


quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A Verdade


A verdade que podemos encontrar numa enciclopédia sobre a Verdade não está na enciclopédia, nem nas bibliotecas e não é a Verdade. Esta é a verdade. Não depende de nós. Ou depende? E é banal. É? E depois? Continuamos a procurar a verdade, mesmo falando verdade e não a encontramos? E se a verdade for desagradável? Dolorosa? Insuportável? Queremos sempre a verdade? E se a verdade é contra nós? Que verdade, ou verdades, nos interessam?
Detestamos a mentira, mas há as meias verdades e a verdade das partes e a verdade do todo, mas a verdade não está nas partes e não está no todo.
A verdade, em última análise, é absoluta: ou é ou não é; se é, é para todos e para todas as inteligências. É ou devia ser? Devia? Porquê?
Um juiz disse-me que só o que está no processo é que está no mundo, a verdade dele é aquela.
Um tipo que eu tenho por cientista diz-me que só o que é verificável, mensurável, empiricamente, merece crédito. Esta é a sua verdade.
Um poeta proclamou que «quanto mais poético mais verdadeiro».
A verdade do filósofo com quem falei é um veredicto, são juízos sobre os próprios juízos, sobre a contenda entre falso e verdadeiro entre a ideia e a coisa, embora saliente que ao filósofo interessa uma interpretação cósmica da sua experiência interior e que essa interpretação, qualquer que ela seja, não é a verdade.
O meu pároco diz que Deus é a Verdade, que as verdades do cientista e do juiz e do filósofo são juízos sobre coisas, factos, acontecimentos, acções e ideias. A verdade não é conhecimento nem doutrinas teóricas que, como tais, se possam comunicar. A alma tende para a contemplação da verdade, para a pura contemplação, sem pensar anotar o que contempla para disso se separar e representar isso sob uma forma «válida em geral» com a qual todos pudessem enriquecer o seu saber. Cada pessoa permanece “fora” de interpretações e esquemas analíticos e nunca lhes está submetido; quando quer conhecer-se a si próprio, não é no homem em si, numa teoria da sua vida que se revê e o que lhe vem do íntimo não carece de explicação alguma. 


domingo, 24 de outubro de 2010

Deus não é uma filosofia



Desde tempos imemoriais que Deus está no centro das meditações e dos questionamentos do homem. Hoje, volvidos tantos séculos de pensamento e investigação e cultura e "contraditório" entre religiões diferentes e dentro das próprias religiões, entre culturas e concepções diferentes e até antagónicas, podemos reconhecer que todo o tipo de tentativas foram feitas (e continuam a ser) pelos homens de cultura e de ciência para "afirmar" ou "negar" Deus.

Mas Deus não é uma teoria, nem é uma hipótese. Deus não é uma filosofia. Nem é uma explicação. É certo que tudo pode ser teorizado e questionado sem limite. Se Deus fosse uma hipótese, ou uma teoria ou uma filosofia, não causaria mais dificuldades do que as questões sobre qualquer outro assunto. Nenhuma teoria, filosofia ou religião consegue transformar uma coisa naquilo que ela não é, ou fazer com que ela deixe de existir. Mesmo aqueles que (apenas) teorizam ou filosofam sobre Deus sabem que teorizam sobre um mistério, sobre o mais antigo e inesgotável dos mistérios. Os que acolhem Deus "revelado" nas suas vidas vivem numa relação construtiva e edificante com esse mistério, uma relação cujos termos são parte essencial da revelação.



segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O ateu é dogmático



O ateu, que invoca a necessidade de demonstração científica da existência de Deus para acreditar, está a incorrer num duplo vício: primeiro, declarando-se ateu, em vez de agnóstico e depois, porque supõe que o método científico tem a virtualidade e a aptidão para conhecer tudo, considerando que a natureza é tudo.

A questão é a seguinte: Deus, que as religiões proclamam como Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis (e as filosofias têm tentado racionalizar), não é sequer uma questão para o ateu.


E por que razões o não é? Por razões científicas? Não. As ciências da natureza não têm informação nem explicação para as origens da natureza, nem para o que ela virá a ser. Têm pretendido apresentar hipóteses, por exemplo, da origem do Universo, da origem da vida, de que houve e há evolução das espécies. Mas todas essas hipóteses não passam disso mesmo e, se continuam em aberto, é como tal.


O ateu é um dogmático. Desde logo, por não se declarar agnóstico. E por se declarar científico, quando não há ateísmo científico. O ateu arroga-se algo que, embora critique e impute, por exemplo, ao cristianismo, este nunca pretendeu: ser científico-naturalista.


Jesus Cristo não deixou dúvidas sobre a importância (necessidade) da Fé. O ateu, que se insurge contra esta condição, a qual diz ser “irracional”, não compreende o seguinte: o que Jesus nos propõe nem sequer é um conhecimento (de algo que não saibamos de acordo com as ciências da natureza). O que Jesus nos propõe é uma Fé e uma prática de vida, mais do que uma atitude (e não é uma filosofia), uma entrega da nossa vida pelos que sofrem, pelos necessitados, por amor aos inimigos.


Para Jesus Cristo, o conhecimento, os saberes, em si mesmos, nada são. São faculdades humanas, competências mentais e motoras, mais ou menos conscientes, mais ou menos voluntárias, mais ou menos inatas, através das quais o homem é chamado a realizar o Bem, o Amor, não como um comércio de interesses e de instintos, mas como imperativo da sua consciência. Consciência de si próprio, consciência do(s) que o rodeia(m), do significado e do sentido das próprias vivências e da História. Neste âmbito, por mais sábio e erudito que o homem seja, não terá realizado o essencial se e enquanto a sua consciência axiológico-normativa lho não ditar.