quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Para que serve o humanismo?


Não deixo de pensar, dramaticamente, que as ideologias têm uma função determinante na organização social e económico-política. 

E que, sem esta organização, o mundo colapsaria (?) rapidamente (?), tal é o “peso” do fator humanidade na equação. 
Não podemos isolar o humanismo personalista das restantes realizações humanas que têm contribuído para resolver problemas do homem.
Mas, aparentemente, nem todos trabalham para resolver problemas do homem. 
Incrivelmente, muitas pessoas, mesmo nos sistemas civilizacionais que, assumidamente, se baseiam na pessoa, são tratadas, afinal, como sendo o problema, não um problema de ordem teórica, mas de ordem prática, do tipo “excrescência”… E há quem tenha pesadelos com "máquinas trituradoras".

Só por si, de nada nos valeriam todas as ciências e tecnologias se o mundo colapsasse. 

No fim, só o humanismo poderia socorrer-nos: a solidariedade (é coisa e de pobres e desgraçados, os ricos não precisam disso até serem pobres), amor (é coisa misteriosa que o dinheiro não compra), música (é coisa de alienados dançantes), religião (é coisa de analfabetos que só têm defeitos), filosofia (amor pela sabedoria), história (é coisa que não serve para construir nada, até ao momento em que é preciso perceber por que é que tudo foi destruído), memória (quem a não tem não tem nada, não faz nada, mas não deixa de ser pessoa…)...

E, ainda mais importante, pessoas
E pessoas com ciência, obviamente.

Sem pessoas, não há problema nenhum para resolver.

Acabem com as pessoas e acabam-se os problemas todos. 

Acabem com o humanismo, promovam a máquina, o robot, levem-nos ao mercado e deixem de produzir pessoas e verão todos os problemas resolvidos, de termodinâmica, de física de partículas, de matemática, de genética, de evolução, de filosofia, de ciência, de artes. Maravilhoso mercado (químicos, farmacêuticos, traficantes, físicos, mecânicos, banqueiros, traficantes, militares, terroristas, informáticos…) que trabalha a pensar no homem e no bem do homem, à escala global, ecológica, inteligente. 

Mas faltaria o maravilhoso humano, a indispensável ideologia, sistema de crenças, sobre o Homem como o valor que deve restar mesmo que todos os outros fracassem. 
Historicamente, por ex. Esparta e Atenas, URSS e Capitalismo, são exemplos de sistemas ideológicos que apostaram mais ou menos na pessoa humana como “produto” ou “mercadoria”, meio ou fim da atividade económico-política e social. É ostensivo, nos tempos de hoje, a redução da pessoa a valor económico. Tudo se rege cada vez mais pelo critério da economia. A racionalidade parece exigir que assim seja. Valor, nos tempos atuais, está praticamente reduzido a valor pecuniário, mais do que a valor económico, ou seja, o que não tiver valor pecuniário, mesmo que tenha valor económico, que requer reconhecimento e tutela, não passa de uma idiotice, não serve para quem só vê mercadoria (como aquele que na floresta só vê lenha). 
Atenas derrotada pelas armas veio a ser vencedora pela memória. A URSS derrotada pelas próprias contradições dos DÍNAMOS e pelos inimigos “humanistas”, parece estar, fatalmente, a sobreviver através da MÁQUINA GLOBAL a que todos os humanismos se curvam.

Vai ser preciso organizar um sistema de democracia global, em que o primado do poder não sejam as MÁQUINAS do dinheiro, nem já a lei, mas a pessoa humana…Se houver pessoas que acreditem nisto.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Tudo tem a ver com tudo


Tudo tem a ver com tudo: ciência com poesia, cultura com ciência, artes com desportos, ciência com artes, tecnologias com humanidades, matemática com música, estrelas com lágrimas, saudade com diamantes, etc...
O problema das relações entre ciência e cultura, todavia, parece-me não ser um problema de concorrência e de rivalidade, (na competição pela valia e domínio, mais do que pela verdade), como o não são as relações entre as diversas artes e desportos.
Incrivelmente, dado o estatuto da ciência, alguns profissionais de ciência, tal como alguns profissionais de santidade, e de fantasias, mais do que verem rivalidade (ou perigo) entre o que seja manifestação cultural e ciência, de preferência matemática, física ou química, laboram numa espécie de menosprezo recíproco.
Em meu entender, o problema não é das ciências, nem das artes, nem dos desportos, nem das humanidades. O problema é querer vê-lo onde não existe.
As perspetivas sobre a realidade (e que realidade?) não são o problema, nem o objeto de análise/síntese (e que tipo de análise/síntese?) nem os objetivos, interesses, etc.. E, por exemplo, no que respeita às artes e às práticas desportivas, as perspetivas podem não fazer parte.
A minha música e o meu futebol vão lindamente com a minha sardinha assada e o meu telemóvel e o Álvaro de Campos e a minha matemática e a minha farmácia e a missa do sétimo dia.
A minha poesia nunca vai interferir, ainda que eu o quisesse, com o teorema de Pitágoras ou a Segunda Lei da Termodinâmica.
O problema surge quando, por exemplo, um matemático me diz que tudo é matemática e que eu, sendo matemática não posso ser, por exemplo, pessoa.
Ou, quando dedico a minha vida à música, vem um químico dizer que a música não existe ou um físico dizer que a música nada mais é do que acústica (de novo Pitágoras), ou um juiz do tribunal declarar que é ruído.
Ou, tendo um diamante, para mim precioso, a coisa mais bela e significativa, que não troco por nada deste mundo, vem um químico e diz que o diamante é uma das formas alotrópicas do elemento químico carbono, que pode ser encontrado na Natureza em três diferentes formas simples: amorfo, grafite e diamante, ou um comerciante vem dizer que não vale mais do que dez milhões de u.m..
Ou, sendo especialista em nanotecnologias, vêm dizer que não sei nada sobre o amor, nem Deus e, dada a minha inabilidade para esse grande edifício da cultura humana que é o futebol, é como se não soubesse ler.
O problema é, em grande parte, de valoração, muito mais do que de utilidade. Noutra parte é um problema de querer comparar aquilo que é diferente como se fossem a mesma coisa.
Não nego a matemática da música, nem a química do diamante, mas para mim a música não é interessante por poder ser traduzida matematicamente, nem o diamante é precioso por ser carbono…

sábado, 25 de junho de 2016

Jogo da vida (valores e virtudes)


Há que trabalhar para resgatar o homem e a humanidade da situação humilhante em que hoje, talvez mais do que nunca, nos encontramos.
Conduzir a humanidade é uma expressão com sentido, mas não passa disso. A humanidade não se conduz, porque não é condutível e porque não há quem fosse capaz de o fazer. Se alguém tentou fazê-lo, o mais que fez foi agregar um grupo em torno de um objetivo concreto e mais ou menos definido, no tempo e no espaço.
Os poderes, as instituições, as religiões, as culturas...e o estilo de vida, com seus hábitos de consumo e suas expectativas, as promessas propagandísticas, os aliciamentos, acenos publicitários e modelos de sucesso socioprofissional, ditam grande parte do que devemos pensar e do que devemos viver e, até, do que devemos sentir. A subjugação é de tal ordem que, ela própria, nos é apresentada como o jogo da vida, o único jogo que vale a pena. Recursos, matéria-prima, otimização, mais-valia, competitividade, empreendedorismo, lucro, são as virtudes deste tempo apressado, que vieram substituir (e matar) as virtudes de outros tempos com mais tempo.
Quem for capaz, ou tiver a oportunidade de trocar tempo por dinheiro, ou dinheiro por tempo, se optar por ter mais tempo para pensar, pode refletir não só sobre o que devemos pensar, mas também sobre como devemos pensar; não só sobre o que devemos viver, mas também sobre como devemos viver; não só sobre o que devemos sentir, mas também sobre como exprimir o que sentimos.
Temos de conseguir pôr fim à balbúrdia e ao estapafúrdio dos pifos mirabolantes que logram fazer girar tudo na roleta do dinheiro que eles dominam.
Os valores de troca são algo de abstrato e complexo que depende de fatores especulativos, que têm vindo a transformar-se no jogo da vida.
Espero que os valores de uso (e não os valores de troca) tenham a palavra mais importante a dizer sobre a condução da humanidade.


sábado, 11 de junho de 2016

Faz-te bravo

É importante saber o que faz um empreendedor e se é possível "fazer" um empreendedor. Dizer, por exemplo, como já ouvi em jornadas de empreendedorismo, que o empreendedor não se faz, nasce, é dizer às pessoas que não estão ali a fazer nada. 
Quando olhamos para exemplos de empreendedores, ou que são convidados e apresentados como tal que, pouco depois, foram à falência, seria muito positivo para a causa do empreendedorismo convidá-los e apresentá-los novamente, nas jornadas do empreendedorismo.
Por outro lado, o próprio conceito de empreendedor, nunca ou raramente é abordado, tendendo a ser confundido, simplesmente, com alguém que se tornou "empresário de sucesso", baseados numa imagem que se tem e não, propriamente, em auditorias contabilísticas e avaliações sociais.
O empreendedor, para o dito empreendedorismo, é um estereótipo sui generis que, de alguma forma "pedagógica", pretende legitimar e sobrevalorizar o mundo empresarial.
Aliás, o empreendedorismo é mais uma iniciativa de caráter empresarial. Quanto aos ingredientes ideológicos, o empreendedorismo só é viável em ambientes favoráveis, como tudo na vida. 
Não obstante, se pudermos ver no empreendedorismo uma cultura de formação e de informação e de concorrência de esforços e de meios para "promover a facilidade" a quem quer abrir negócios ou concretizar uma ideia empresarial, isso parece-me ótimo.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Rei Midas


Quanto mais observo o que tem acontecido desde a 1ª revolução industrial, mais me parecem ridículos e levianos os que se vangloriavam do "progresso". 
Em pouco mais de 2 séculos, aí temos o resultado, já não falando do que aconteceu durante esse período, de exploração humana, guerras e de destruição de recursos naturais. Esta curta era da história não tem paralelo, como galeria de horrores. 
Há sempre os que preferem ver o lado bom das coisas, e esquecer ou ignorar tristezas mas, neste caso, o balanço negativo é esmagador. Quando se olha ao espelho, o Homem não tem motivos para sorrir. 
A voragem dos humanos é algo de louco e assustador. As nossas sociedades têm de estar constantemente a destruir para produzir e construir o que, pouco depois, destroem de novo, não com o objetivo de satisfazer necessidades essenciais, mas encandeados pelo brilho do lucro. A humanidade transformou-se numa máquina monstruosa e imparável que engole o planeta e o defeca sobre si própria, sob a forma de lixo, tóxicos, dinheiro ou ouro. 
Nunca como hoje o mito de Midas teve tanto significado, mas, enquanto Midas pôde voltar aos campos, o Homem talvez não tenha essa possibilidade. 

quinta-feira, 31 de março de 2016

A ciência das escolhas


A ciência, enquanto tal, enquanto conhecimento, arriscaria dizer que é boa. A ignorância, arriscaria dizer que não é boa.
Mas toda a decisão, ou ação/omissão, ainda que baseada na ciência, nos coloca perante um problema de bem ou mal, bom ou mau, ou nem uma coisa nem outra.
As consequências, ou efeitos, da ação/omissão são um problema não menos importante ou crucial do que os problemas da ciência enquanto conhecimento das coisas.
Não é racional, nem é bom que se deixe o poder de decisão sobre o uso do conhecimento àqueles que detêm esse poder porque lá chegaram por qualquer via, autocrática, democrática, plutocrática...
Mas também, não é pelo facto de os cientistas o serem nas suas áreas específicas, que o sejam na "ciência das escolhas", no momento de escolher a melhor opção possível.
A ciência das escolhas é uma coisa "tramada", porque, modo geral, quando se trata de agir, por exemplo, conquistar um país, dominar uma região, toda a ciência se presta a qualquer escolha, exceto a ciência das escolhas.
Não é apenas um problema de ética. É sobretudo um problema económico (de sobrevivência da humanidade e bio-ambiental), que ultrapassa o "logos" da ética e adquire contornos da ordem do transcendente.
Não parece que possamos prescindir do contributo e da intervenção crítica muito atenta da ciência das escolhas sempre que se trate de saber o que é melhor, do leque das ações/omissões disponíveis.
E muito menos prescindir de mecanismos políticos que garantam a melhor decisão (que não poderá ser meramente política mas, tanto quanto possível, científica). E aqui já deparamos com uma imensa dificuldade.
A história é a demonstração, até à exaustão, de que o poder, nas mãos dos loucos, transforma o conhecimento num instrumento de destruição e de domínio e de que o poder, de uma ou outra forma, acaba sempre em violência mais ou menos camuflada sobre as pessoas e o ambiente e as coisas em geral.
Há que respeitar a vontade das pessoas adultas sempre que essa vontade não colida com interesses de terceiros e, se tiver que lhes ser imposta alguma restrição por razões de interesse público, que seja dada garantia de que o risco é assumido pelo Estado, que responderá por danos.
Neste aspeto, sempre salvaguardados os princípios da responsabilidade civil e os limites criminais, que têm a ver com publicidade enganosa, burla, etc...., a questão das vacinas não parece diferente de outras situações em que há intervenções na saúde.

sábado, 26 de março de 2016

O dinheiro


A questão, tantas vezes invocada para justificar a austeridade, de não haver dinheiro é uma falsa questão e é um modo cínico, ou manifesta ignorância, de justificar a privação das pessoas de bens e serviços. 
Se, por absurdo, eliminássemos todo o dinheiro, ou o colocássemos em sepultura, como se fez ao latim, deixaríamos de pensar que todos os problemas eram de falta de dinheiro. Os problemas passariam a ser eles próprios e não de dinheiro. 
O verdadeiro problema é que o dinheiro se tornou cada vez mais o grande problema.
É sabido que as pessoas não comem dinheiro nem se deslocam em cima de notas ou de moedas. 
Não dêm dinheiro às pessoas, dêm-lhes bens e serviços e fiquem com o dinheiro todo.
Se amanhã não houvesse dinheiro, o mundo não estaria mais pobre e não haveria mais famintos, nem mais doentes, nem menos fruta, ou lojas mais vazias. 
Podemos ter a certeza de que, se não houvesse dinheiro, não haveria inflação, nem deflação, nem tantas outras situações deploráveis ligadas ao capitalismo financeiro.
As imensas vantagens da fungibilidade do dinheiro (e haja em consideração o facto de este conceito estar longe de ser coincidente com o conceito de moeda) talvez saíssem muito diminuídas de uma análise sobre as, também imensas, desvantagens.
O dinheiro tem vindo a adquirir uma tal abstração que se tornou um valor e uma mercadoria e um instrumento em si mesmo, profunda e terrivelmente dissociado da dinâmica e das leis da economia dos bens e serviços.
Digamos que o facto de ser um mercado (cujo peso e relevância nas economias é assustadoramente crescente e incontrolável) à parte dos mercados de trabalho, mercadorias e serviços, exige que se compreenda, sem ilusões, de que é que se está a falar quando se fala de dinheiro.
Fazem falta Newtons e Einsteins nas ciências económicas para nos ensinarem imensas coisas que é preciso saber. 
No entanto, nestas áreas, que também atraem os mais dotados, os cérebros preferem ocupar-se em esquemas de enriquecimento...