"Ser feliz é uma actividade que requer toda uma vida e não pode existir em menos tempo" - Aristóteles, Ética a Nicómaco
quinta-feira, 7 de abril de 2016
quinta-feira, 31 de março de 2016
A ciência das escolhas
A ciência, enquanto tal, enquanto
conhecimento, arriscaria dizer que é boa. A ignorância, arriscaria dizer que
não é boa.
Mas toda a decisão, ou ação/omissão, ainda
que baseada na ciência, nos coloca perante um problema de bem ou mal, bom ou
mau, ou nem uma coisa nem outra.
As consequências, ou efeitos, da ação/omissão
são um problema não menos importante ou crucial do que os problemas da ciência
enquanto conhecimento das coisas.
Não é racional, nem é bom que se deixe o
poder de decisão sobre o uso do conhecimento àqueles que detêm esse poder
porque lá chegaram por qualquer via, autocrática, democrática, plutocrática...
Mas também, não é pelo facto de os cientistas
o serem nas suas áreas específicas, que o sejam na "ciência das
escolhas", no momento de escolher a melhor opção possível.
A ciência das escolhas é uma coisa
"tramada", porque, modo geral, quando se trata de agir, por exemplo, conquistar um país, dominar uma região, toda a ciência se presta a qualquer
escolha, exceto a ciência das escolhas.
Não é apenas um problema de ética. É
sobretudo um problema económico (de sobrevivência da humanidade e bio-ambiental), que
ultrapassa o "logos" da ética e adquire contornos da ordem do
transcendente.
Não parece que possamos prescindir do
contributo e da intervenção crítica muito atenta da ciência das escolhas sempre
que se trate de saber o que é melhor, do leque das ações/omissões disponíveis.
E muito menos prescindir de mecanismos
políticos que garantam a melhor decisão (que não poderá ser meramente política mas, tanto quanto possível, científica). E aqui já deparamos com uma imensa dificuldade.
A história é a demonstração, até à exaustão,
de que o poder, nas mãos dos loucos, transforma o conhecimento num instrumento
de destruição e de domínio e de que o poder, de uma ou outra forma, acaba sempre em
violência mais ou menos camuflada sobre as pessoas e o ambiente e as coisas em geral.
Há que respeitar a vontade das pessoas
adultas sempre que essa vontade não colida com interesses de terceiros e, se
tiver que lhes ser imposta alguma restrição por razões de interesse público,
que seja dada garantia de que o risco é assumido pelo Estado, que responderá
por danos.
Neste aspeto, sempre salvaguardados os princípios da responsabilidade civil e os limites criminais, que têm a ver com publicidade enganosa, burla, etc...., a questão das vacinas não
parece diferente de outras situações em que há intervenções na saúde.
sábado, 26 de março de 2016
O dinheiro
A questão, tantas vezes invocada para justificar a austeridade, de não haver dinheiro
é uma falsa questão e é um modo cínico, ou manifesta ignorância, de justificar
a privação das pessoas de bens e serviços.
Se, por absurdo, eliminássemos todo
o dinheiro, ou o colocássemos em sepultura, como se fez ao latim, deixaríamos
de pensar que todos os problemas eram de falta de dinheiro. Os problemas
passariam a ser eles próprios e não de dinheiro.
O verdadeiro problema é que o dinheiro se tornou cada vez mais o grande
problema.
É sabido que as pessoas não comem dinheiro nem se deslocam em cima de notas ou
de moedas.
Não dêm dinheiro às pessoas, dêm-lhes bens e serviços e fiquem com o
dinheiro todo.
Se amanhã não houvesse dinheiro, o mundo não estaria mais pobre e não haveria
mais famintos, nem mais doentes, nem menos fruta, ou lojas mais vazias.
Podemos ter a certeza de que, se não houvesse dinheiro, não haveria inflação, nem deflação, nem tantas outras situações deploráveis ligadas ao capitalismo financeiro.
Podemos ter a certeza de que, se não houvesse dinheiro, não haveria inflação, nem deflação, nem tantas outras situações deploráveis ligadas ao capitalismo financeiro.
As imensas vantagens da fungibilidade do dinheiro (e haja em consideração o
facto de este conceito estar longe de ser coincidente com o conceito de moeda)
talvez saíssem muito diminuídas de uma análise sobre as, também imensas,
desvantagens.
O dinheiro tem vindo a adquirir uma tal abstração que se tornou um valor e uma
mercadoria e um instrumento em si mesmo, profunda e terrivelmente dissociado da
dinâmica e das leis da economia dos bens e serviços.
Digamos que o facto de ser um mercado (cujo peso e relevância nas economias é
assustadoramente crescente e incontrolável) à parte dos mercados de trabalho,
mercadorias e serviços, exige que se compreenda, sem ilusões, de que é que se
está a falar quando se fala de dinheiro.
Fazem falta Newtons e Einsteins nas ciências económicas para nos ensinarem
imensas coisas que é preciso saber.
No entanto, nestas áreas, que também atraem os mais dotados, os cérebros preferem ocupar-se em esquemas de enriquecimento...
No entanto, nestas áreas, que também atraem os mais dotados, os cérebros preferem ocupar-se em esquemas de enriquecimento...
domingo, 13 de março de 2016
Como um crente
Fosse eu demolidor e diria: felizes os que têm
prazer de ler o que escrevo, porque são justos e belos e sãos e santos e
inteligentes e sensatos e quase perfeitos, mais do que eu.
Mas escrevo sem recriminações.
Não escrevo como um juiz, nem como um réu.
Escrevo como um ignorante que aspira à sabedoria, como um cego
que aspira à visão, como um forte que não tolera a força, como um fraco
que não se resigna a qualquer sujeição. Não escrevo "ex cathedra", mas como um crente. A esperança e o
amor são a racionalidade e a poesia a expressão de algum modo ou forma de
verdade.
sábado, 27 de fevereiro de 2016
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
Nada que não seja
Se eu soubesse não diria
Nada que não seja
Poesia
Nada que não saibas
Que eu não sabia
Não direi nada
Sei
Extenso dia
Até onde alcança
A vista
A fantasia
A alma
Que vê ausências
Onde há
As dela
As outras não
Direi por dizer
Pelo prazer
De ouvir-me
E de crer
Que a palavra não faz
Falta
Em vão.
Ateísmo e naturalismo
Vamos
colocar as questões da seguinte forma: nós não aceitamos a natureza, o ser da
natureza, que é um "sendo" contra o qual, sendo nós natureza, não era suposto estarmos,
mas somos a natureza "suicida", um produto da natureza.
O homem não
se limita a ser e esse é o problema: o homem não é.
A natureza que produz o homem
não tem que, nem precisa de, se queixar. O homem também não, a não ser de si
próprio, ou da sua natureza, mas isso é completamente estranho à natureza.
Ou
então temos mais do que uma natureza na natureza e há naturezas que são mais ou
menos naturezas do que outras.
A natureza, sem o homem, não tinha problema
nenhum para resolver e, com o homem, também não, a não ser a tal natureza do
homem que é "contra a natureza", ou que não aceita a natureza e que não
se limita a ser natural, sendo, além disso, moral, religioso, político, mais
caracterizado pelo "dever-ser", que o atormenta, do que pelo "ser",
que não atormenta nada nem ninguém.
A natureza não sabe, nem tem essa coisa do
"dever-ser".
O ateu e o naturalista também não deviam ter e deviam
estar perplexos com o mundo cada vez mais feito/desfeito de dever-ser. A
começar pelo ateu e pelo naturalista, que não se limitam a ser, mas têm um
discurso, ideias, conceitos, ideais, ideologias, "morais".
O porquê
dos naturalistas e dos ateus ainda é mais indecifrável, apesar de todo o
arsenal científico e técnico disponível, do que o já antiquíssimo porquê dos
que acreditam no sobrenatural.
E o para quê, o propósito, a finalidade da
natureza, até para eles é algo central e imprescindível. Não que eles
reconheçam ou apontem, ou acreditem, em alguma finalidade, porque não encontram
nenhuma relação causal, necessária, "construtiva", entre os primeiros
átomos e o homem. Para eles nada faz sentido, nada tem sentido, tudo é obra do
acaso.
E também aqui é a natureza a pensar e a dizer sobre si própria que não
sabe quem é e que todos os seus poderes lhe vêm como se fosse do nada, que também
não sabe o que é e que talvez chame nada ao sobrenatural, às forças, aos
poderes, aos fenómenos que não existiam no princípio, no big-bang, e que
passaram a existir e que, também hoje, surgem, do nada, para se
"acrescentarem" a tudo o que existe.
Desde o primeiro minuto do
big-bang até à atualidade, tudo foi surgindo sem que existisse
antes...criando...as forças, os átomos...etc., etc....E tem de ser a natureza a
interrogar-se sobre si própria, através do homem, porque não sabe de si própria
e nunca agiu em sentido nenhum, com nenhuma finalidade, ou vontade e a própria
inteligência e consciência do homem é um puro acaso, nada mais, mas um acaso
que descobre que nada é por acaso e que a natureza não se explica a si própria,
nem enquanto natureza-homem investigando e refletindo...
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