quarta-feira, 25 de abril de 2012

Liberdade



Hoje, 25 de Abril. A liberdade é um daqueles conceitos com que, à falta de melhor, se faz uma bandeira. A liberdade é perigosa. A liberdade é a justificação para a opressão e a espoliação e a escravatura. 
Cuidado! É preciso pensar e repensar sobre a distância que vai daquilo que os dicionários dizem àquilo que a experiência nos ensina. Um dicionário não é o livro de todo o conhecimento. 
Com a liberdade se enganam aqueles que a têm como valor muito alto. Os oprimidos gritam por liberdade! Querem liberdade. A questão é que a liberdade não é boa só para os que a têm. 
A liberdade como princípio, ou como direito, é muito bonita, mas é uma oportunidade que não é para todos. Por exemplo, a liberdade interessa aos poderosos, ao capital, aos mafiosos, aos malfeitores. Mas a importância que a liberdade tem para os pobres, "escravos", oprimidos, não é a mesma que tem para aqueles. Estes aspiram à liberdade como ao maior bem. E é por isso que são (e têm sido) facilmente ludibriados. A liberdade, na prática, é desastrosa para quem não tem poder. 
Se aplicarmos este raciocínio ao ensino, as coisas podem assumir várias configurações. Actualmente, em teoria, ninguém está impedido de criar escolas e sistemas de ensino e programas iguais ou diferentes dos que existem. Por sua vez, ao Estado, enquanto estrutura "não livre", incumbe prosseguir orientações e exigências supostamente sufragadas pela vontade da população "pagante" ou contribuinte, ou simplesmente eleitoralmente relevante. Do ensino público não se espera que seja "livre" porque deveria ser regulamentado e programado em função da vontade democrática. O problema é que a democracia tal como a liberdade é um conceito que, na prática, está completamente subvertido. Com um punhado de votos, uma minoria, há um partido que faz o que quer. Não é o poder do povo nem o poder da maioria. É, realmente, uma ditadura da minoria, salvaguardados embora direitos fundamentais como liberdade de expressão e de manifestação. (Aliás, ditaduras de maiorias é coisa que nunca deve ter existido...). 
Que o Estado queira impor directrizes, leis quadro, orientações pedagógicas, conteúdos e objectivos de "manipulação" e "subalternização" do agentes educativos, acho nefasto e errado. Quanto mais os professores forem meros executores de programas e de conteúdos, mais subserviência e servilismo estúpido estarão a promover. E é contra esta tendência que a liberdade vai. Mas, para salvaguardar o mérito, os professores deverão estar sujeitos à liberdade de escolha dos alunos (e seus pais/responsáveis).



sábado, 14 de abril de 2012

A poesia é irredutível como a vida


A poesia é irredutível como a vida. A filosofia fareja-a e conspurca-a. A religião dis...puta-a mas não a dis...pensa. A ciência ignora-a. Nããão obstante, Aristóteles dizia que a poesia é mais científicaaa do que a história, pois esta nããão passa de uma simples colecção de factos empíricos, enquanto a poesia extrai de tais factos um juízo universal.
Em cada verso se abrem perspectivas plausíveis como brechas, para lá do horizonte implausível como uma muralha.



quarta-feira, 28 de março de 2012

Efeitos sem causa, causas sem efeito



Quanto aos efeitos sem causa, um exemplo apontado por alguns naturalistas ateus é o do cosmos e das leis da natureza, uma vez que o caos (em que tudo sem excepção acontece por acaso, ao ponto de ser impróprio dizer "acontece", porque por acaso nada acontece)nunca poderia criar ordem. Mas proponho outro campo fértil para a investigação, qual seja, saber se alguma vez existiu ou podia existir caos, bem como, causas sem efeito. Mas não confundamos o plano factual da causalidade com as necessidades da lógica.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Plutocracia





O ter, possuir, bens materiais, ou a possibilidade de os adquirir, confere poder, sobretudo se e quando o ter se traduz em alguma forma de privilégio, ou vantagem relativamente a outrém. Se esse poder for usado no bom sentido, não há problema. (Em muitos casos, para usá-lo no bom sentido bastará abster-se de mau uso). Se for usado no mau sentido, torna-se causa e fonte de graves problemas.
Embora o cristianismo, na sua essência, apele ao melhor uso do ter e do possuir, tanto bens materiais como bens intangíveis, intelecto e talentos, e sejam as maiores virtudes aquelas que o realizam, sabemos que nem todos os homens praticam tal doutrina e que, quiçá a maioria, vive subjugada a esse poder. Os que não o detêm são vítimas, mas os que o detêm também se sentem vítimas da necessidade, ou da "idiotice" de o possuírem. Não me parece que, em geral, os não detentores e os detentores tenham uma visão diferente desse poder e, de acordo com a cultura vigente, parece-me que aspiram todos ao mesmo. Mas isto está errado e é mau. A lógica que impera aqui é uma espécie de ciclo vicioso da guerra. Esta dinâmica não é uma fatalidade e é necessário revertê-la, de forma que todos se sintam mais livres, os escandalosamente ricos, os demasiado ricos, os ricos e os aspirantes a ricos e os outros. Não é resignando-nos a um sistema profunda e miseravelmente inadequado aos interesses da humanidade e incrivelmente injusto, como o era, aliás, o sistema esclavagista, que as coisas vão melhorar, bem pelo contrário.

sábado, 26 de novembro de 2011

A verdade (não a mentira) de uma religião



A verdade de uma religião é uma verdade vasta de profundidades e horizontes sem limites e de contornos difusos, mais vasta do que a verdade do mundo, da vida e da morte, do bem e do mal, do amor e do ódio, do saber e do ignorar...
É sempre mais do que as verdades dos outros e sempre mais do que a tua verdade. 
A verdade de uma religião também é verdade por ser religião, mas não é só por isso. Também é verdade por aspirar à verdade. 
Também é verdade por aspirar à verdade não pelo motivo de conhecer e de aprender, mas para salvar a alma. 
A verdade de uma religião não tem duas faces, ou dois gumes. 
O teu conhecimento pode ser usado contra ti e contra os outros. 
Mas a verdade não.


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O Estado

                                                                                                                                                                    
Sem entrar em detalhes, acho que o Estado não pode, nem deve ser o principal instrumento, ou meio, ou
sistema através do qual grupos, partidos, interesses, poderes, ideologias, religiões, se "governam" e "assaltam" ou "saqueiam" o chamado erário público. Tanto mais que o Estado já não tem formas, nem mecanismos, para se defender, por exemplo, dos efeitos externos e internos da globalização. O poder de controle dos governos sobre esses efeitos já não existe. Dir-se-ia que ainda bem, considerando o que referi acima. Mas isto é um liberalismo selvagem...


E há os que defendem o menos possível de Estado, que estão na primeira linha dos candidatos a cargos no Estado, dispostos a mandarem no Estado; e os que defendem o mais possível de Estado e o menos possível de liberdades individuais, que passam a vida à sombra do Estado Liberal...

Na realidade, o Estado, hoje, como sempre, é uma estrutura de dominação, que interessa a toda a gente, a uns mais do que a outros, sobretudo na dita democracia, em que tudo está racionalizado/legitimado/supostamente pactuado, e nenhum direito é teoricamente negado a ninguém, prevendo-se uma válvula de escape teórica para todas as situações críticas.

O funcionário público é um trabalhador como outro qualquer, inseguro e preocupado e subordinado à lei. Mas a classe política é uma classe à parte, uma verdadeira "classe", que pode fazer a lei, para si própria, a melhor possível, o que só é coisa vergonhosa e inconcebível na medida em que, também a faz para os outros, mas não é a mesma...
                                                                                                                                                                      

sábado, 15 de outubro de 2011

Indignai-vos

                                                                                                                                                                    

Não é racional esperarmos que os políticos actuais e os partidos actuais façam o que devia ter sido feito, mesmo antes do desvelar dos "buracos", que era encontrar as causas, os responsáveis e que fossem eles a suportar as consequências dos seus actos. Na realidade, eles não vão condenar-se a eles próprios. Mas todos sabemos que as dívidas do Estado não foram contraídas pelo cidadão comum, que sempre fez o que o obrigaram a fazer e pagou o que tinha de pagar. Quem geriu os dinheiros e o património do Estado, quem efectuou e assinou(?) as despesas é quem deve, em primeira linha responder. Quantas vezes teremos nós, cidadãos trabalhadores e contribuintes na fonte, de pagar contas que tão-pouco nos são minimamente explicadas e justificadas?

Que raio de ditadura "sagrada" é esta? E a maioria não está silenciosa.
Não podemos continuar à mercê de quem tudo fez para cairmos no abismo. A primeira medida necessária é afastar do poder todo e qualquer indivíduo que tenha feito parte dos partidos e dos governos dos últimos trinta anos. Continuam a repetir inocuidades para eles próprios, em vez de explicarem o que aconteceu, o que está a acontecer e como aconteceu. Quando eles falam, esperamos que digam algo mais do que aquilo que toda a gente está farta de saber. A segunda medida é dar-lhes a oportunidade de demonstrarem o que andaram a fazer enquanto membros dos órgãos políticos. A terceira é julgá-los. Ao mesmo tempo, apurar responsabilidades civis e criminais quanto à alegada dívida pública e aos chamados buracos.
O país e os interesses dos cidadãos não podem continuar nas mãos dessa gente. Ontem estávamos mal, hoje estamos muito pior e amanhã como é que estaremos?
As propaladas reformas deviam ter começado pelo sistema político, pelo aparelho político do Estado e pela defesa do Estado contra o "assalto" de poderosos interesses organizados.
Se o Estado e os seus órgãos de soberania não têm controle sobre os efeitos da globalização e estão "desarmados" contra pressões e mecanismos externos, então é tempo de repensar o Estado e os poderes. O perigo é fingir que tudo continua a funcionar como dantes.
Os nossos políticos nunca se pareceram tanto como hoje com actores que representam um triste e desacreditado papel.