Vou pronunciar-me como independente, que não concorre a nada, porque não
gosta de concorrer e não quer, embora respeite e valorize quem gosta e quer e o
faz de acordo com as regras e a boa fé.
De resto, também os partidos deviam ser independentes. Ser independente não é ser anti nada,
é ser a favor daquilo que justifica (deve estar na base) da criação de qualquer
associação política.
Unir esforços, intenções, meios, para atingir fins, só por si, não é
coisa boa (pode ser péssima).
Fazê-lo como reação a agressões ou forças ameaçadoras, ou como
resposta sistematizada a pretensões contrárias, pode ser legítimo, mas não quer
dizer que seja bom, necessário ou tolerável.
O mais triste e preocupante sinal da democracia (e criticar a
democracia não é ser contra a democracia, no sentido etimológico da palavra,
muito pelo contrário, os democratas, hoje em dia, não se deixam entorpecer e
revoltam-se contra a lorpice burocrática do número como fator que mais
interessa aos partidos e têm de ser "antidemocráticos", por isso
mesmo, e porque a democracia dos partidos (não independentes) é um simulacro
cuja retórica oca já a destruiu.
Eu não nasci ontem.
Os partidos são organizações de interesses na senda da sua defesa e
conquista e cultivam isso cada vez mais, como se essa fosse a sua razão de ser.
Nem têm outro discurso. É medonho.
Mas não é suposto que o sejam, nem devem ser.
Eu sou partidário da independência e dos independentes e fico
esperançoso que estes ganhem cada vez mais terreno e influência àqueles que
promovem, defendem e logram o interesse corporativo e de grupos, à custa dos
outros.
Transformar estas realidades gravíssimas num faz de conta de um jogo
de sorte e azar em que pode ganhar o palhaço ou o velhaco, mas no fim ganha
sempre o mesmo, é do mais cínico e desumano que tem o nosso folclore político.
É tudo uma questão de princípios, de valores de retidão e de verdadeiro
sentido e prática social. Vender isto é trocar a ideia bonita e promissora de
democracia por uma montanha de ouro escondido dos próprios guardiões. É vender
o poder do povo. Como fatalmente (para o povo) tem sido prática.
Enquanto o povo continuar a "acreditar" no negócio a coisa
funciona.
A independência, diferentemente dos interesses, é uma coisa que o
nosso sistema político praticamente não pensa e não conhece, mas vamos ter de
evoluir para lá, porque o que legitima um partido não são os interesses
particulares e de grupos (em geral e abstrato, caso contrário, até um partido
nazi estaria em pé de igualdade), mas outros, de caráter geral, humano,
universal... E são muitos, são de todos, presentes e futuros, como, por
exemplo, não permitir que alguém os sequestre, domine e destrua, porque sim,
porque "eu quero".
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