quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Mitologias antigas


Ainda vivemos num mundo dominado por mitologias antigas e são elas que ditam as reformas "impossíveis", porque nada se reforma a si mesmo. 
Abstrações como "aluno" "professor" "perfectibilidade" "progresso" "crescimento económico"... impedem uma autêntica desmontagem e reconsideração dos problemas que precisamos de resolver e dos que queremos resolver.
Por ex., nem toda a gente está interessada na perfectibilidade da pessoa, o que que quer que isso signifique. Ou no progresso, o que quer que isso signifique. Ou no crescimento económico...
Mas toda a gente sabe que pensar custa muito, escrever não menos, ler talvez mais e que não basta pensar, escrever ou ler para resolver problemas triviais de sobrevivência.
A escola não pode ser um laboratório fora da sociedade e dos problemas reais.
Se os alunos, desde bebés, só conhecerem o espaço da escola, ou coisa parecida, não temos modo de ensinar-lhes quase nada do mundo, nem sobre os vegetais que comem, peixes ou carnes, e se saírem em passeio, não olham para lado nenhum senão para o telemóvel.
Mas se calhar é isto que interessa, preparar a humanidade do futuro, que viva em satélites, sem necessidade do contacto com a natureza (como em parte são já as grandes cidades).
Esta tendência parece estar a ser procurada e reforçada, deliberada ou por força das condições, por estruturas/dinâmicas/processos/mercados de massificação (aliás, muito realistas), que apostam no consumo mínimo, digno (?) e sustentável (?), retirando da mente aquele fantasma devastador de há muitos anos, do "american dream".
Neste aspeto, a tão criticada concentração de riqueza, ao afastar/excluir um grande número de consumidores, ironicamente, contribui para a preservação de recursos do planeta (um dos pontos críticos do nosso tempo).
Uma escola com a pretensão, por ex., de criar génios, seria uma aberração. Com a pretensão de fazer 80% dos alunos doutores em matemáticas, ou medicina, ou física, ou desporto...seria outra aberração. Todos temos a noção disto.
Mas ninguém tem a noção do que a escola pretende.
Em abstrato, sabemos que a escola pretende o ótimo, e o ótimo é tudo o que há de melhor.
E, para cada aluno, em concreto? O que o aluno pretende? Uma utopia?
Ou o ótimo é mesmo deixar que nos processos de ensino-aprendizagem professores e alunos tirem o melhor proveito do que há para aproveitar, de acordo com os seus objetivos, apostas, interesses, motivações, capacidades...?
A escola tem de estar preparada e atualizada para as solicitações do nosso tempo.
Não teria sentido que continuasse a ensinar e a preparar para funções que deixaram de existir (a não ser em cursos de conhecimento pelo conhecimento, ou de arte pela arte, que podem ter imenso interesse).

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