sexta-feira, 18 de maio de 2012

A ideia de democracia e a partidocracia



Se a maior parte das pessoas é precisamente como os críticos da democracia, não confirmo nem desminto, mas não acredito. Em todo o caso, se assim fosse, esta seria a maior crítica que se poderia fazer à democracia. Não à ideia de democracia e às bondades do modelo puramente teórico, mas à realidade da nossa democracia partidária e aos seus vícios, sabendo nós, não obstante, que a democracia não se esgota nas instituições partidárias, autênticas sanguessugas do Estado (dos cidadãos) em cujas mãos as tais pessoas (a maioria, como diz) não podem deixar de estar.


Desculpabilizar os políticos, colocando em causa a maioria das pessoas, responsabilizando-as dos males da democracia, ou da sociedade, é algo de incongruente, como se os eleitores não pudessem responsabilizar os eleitos mas estes e só estes pudessem responsabilizar aqueles (até por terem votado neles).

Na realidade o que se passa é que, com mais ou menos votos, num sistema mais ou menos imperfeito, os eleitos assumem compromissos que não honram e, em vez de usarem os impostos dos contribuintes e o erário público para benefício da coisa pública, usam-nos para fins ilícitos, com clamoroso dano dos contribuintes.

Se um país for à falência por desgoverno e se os contribuintes cumpriram as suas obrigações, inclusivé a de votarem naqueles que deviam ter evitado o abismo, a única coisa de que podem ser culpados é de terem votado em quem votaram. Mas quem não votou neles, não. No entanto, sofre as mesmas consequências. E quais são as consequências para os eleitos que tinham o dever e a responsabilidade de gerir bem o Estado?

O povo faz o que lhe mandam, trabalha, faz guerras, paga impostos, paga as crises, paga as multas, o que deve e, muitas vezes, o que não deve, e cumpre o dever de votar. Se os eleitos agem mal, pelo menos, o povo deveria poder exercer alguma tutela sobre eles, sem ter de ser através deles próprios.

Mas não é razoável esperar que um trabalhador, além do seu trabalho, tenha ainda de fazer o trabalho daqueles que se candidatam como profissionais da política e ocupam cargos remunerados para isso, ou, pura e simplesmente, acreditar que está ao seu alcance trocar a sua profissão pela de político. Não esqueçamos que o apelo à participação cívica e política dos cidadãos é um apelo a trabalho suplementar não remunerado, enquanto que os políticos são eleitos e remunerados para o fazerem em representação daqueles.

E é inadmissível que os políticos "peçam" aos cidadãos para lhes dizerem, por exemplo, como é que se deve governar.



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