sábado, 28 de abril de 2012

Sobre a nossa democracia



Sobre a nossa democracia, penso que o povo só lhe viu as bandeiras e o folclore. Em democracia, o saber é "inerente" ao povo e toda a gente sabe que a liberdade é que importa. Só que a liberdade de uns, muitas vezes, choca e impede a liberdade de outros. E, enquanto uns aspiram à liberdade como ao maior bem e são, por isso, chantageados pelos "políticos", estes e outros, exercem uma espécie de liberdade sem barreiras, teoricamente legitimada por aqueles. A democracia e o nosso sistema democrático sempre nos foram apresentados como algo de sagrado e venerável e quem os ousasse questionar abertamente era interpretado (perseguido/acusado/diabolizado) de inimigo do povo, como «reaccionário», ou, pior ainda, como «fascista». Vai ser preciso questionar abertamente a bondade e a eficácia, a funcionalidade e as bases de um grande conjunto de ideias feitas, as quais, só por si, não são solução para os problemas. O Estado é um aparelho e é o aparelho do poder e do domínio. Um Estado democrático, no plano dos princípios, é um aparelho do povo ao serviço do povo. Na prática é um aparelho altamente apetecível para os partidos políticos e não apenas por serem partidos políticos, mas também por "representarem" interesses e poderes que se sobrepõem, ou conflituam, ou são contrários, ou são incompatíveis, com os do povo. E o povo, ao sentir isso, percebe que está entregue "à bicharada". Os elevados níveis de abstenção nas eleições não podem ser entendidos como apatia, antes pelo contrário. A participação política de quem vai votar só significa isso, que os partidos concorrentes conseguiram "mobilizá-los". A abstenção significa que os partidos concorrentes não conseguiram mobilizar esses eleitores. Não votar é um comportamento político cujo significado não pode ser escamoteado, apesar de os partidos políticos terem um especial interesse em valorizar quem vota e desvalorizar quem não o faz. No fundo, quem não vai votar comporta-se como se o seu voto não alterasse nada. E sabendo que, qualquer que seja o resultado eleitoral, se sujeitará, isso não significa que esteja de acordo ou que aceite esse resultado. É que, na realidade, mesmo que todos votassem, "a priori" já sabemos que resultado seria. Qualquer dos partidos concorrentes que ganhasse as eleições não alteraria aquilo que verdadeiramente importa alterar. O nosso sistema democrático é uma espécie de sistema fechado que não comporta soluções que o não comportem a ele. É um sistema de gestão de si mesmo. E, no entanto, é um sistema que já provou a sua inutilidade e, até, a sua grande inconveniência. Mas é um sistema que não comporta a possibilidade de o reconhecer, porque vive de se enaltecer a si mesmo.


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