quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Plutocracia





O ter, possuir, bens materiais, ou a possibilidade de os adquirir, confere poder, sobretudo se e quando o ter se traduz em alguma forma de privilégio, ou vantagem relativamente a outrém. Se esse poder for usado no bom sentido, não há problema. (Em muitos casos, para usá-lo no bom sentido bastará abster-se de mau uso). Se for usado no mau sentido, torna-se causa e fonte de graves problemas.
Embora o cristianismo, na sua essência, apele ao melhor uso do ter e do possuir, tanto bens materiais como bens intangíveis, intelecto e talentos, e sejam as maiores virtudes aquelas que o realizam, sabemos que nem todos os homens praticam tal doutrina e que, quiçá a maioria, vive subjugada a esse poder. Os que não o detêm são vítimas, mas os que o detêm também se sentem vítimas da necessidade, ou da "idiotice" de o possuírem. Não me parece que, em geral, os não detentores e os detentores tenham uma visão diferente desse poder e, de acordo com a cultura vigente, parece-me que aspiram todos ao mesmo. Mas isto está errado e é mau. A lógica que impera aqui é uma espécie de ciclo vicioso da guerra. Esta dinâmica não é uma fatalidade e é necessário revertê-la, de forma que todos se sintam mais livres, os escandalosamente ricos, os demasiado ricos, os ricos e os aspirantes a ricos e os outros. Não é resignando-nos a um sistema profunda e miseravelmente inadequado aos interesses da humanidade e incrivelmente injusto, como o era, aliás, o sistema esclavagista, que as coisas vão melhorar, bem pelo contrário.

sábado, 26 de novembro de 2011

A verdade (não a mentira) de uma religião



A verdade de uma religião é uma verdade vasta de profundidades e horizontes sem limites e de contornos difusos, mais vasta do que a verdade do mundo, da vida e da morte, do bem e do mal, do amor e do ódio, do saber e do ignorar...
É sempre mais do que as verdades dos outros e sempre mais do que a tua verdade. 
A verdade de uma religião também é verdade por ser religião, mas não é só por isso. Também é verdade por aspirar à verdade. 
Também é verdade por aspirar à verdade não pelo motivo de conhecer e de aprender, mas para salvar a alma. 
A verdade de uma religião não tem duas faces, ou dois gumes. 
O teu conhecimento pode ser usado contra ti e contra os outros. 
Mas a verdade não.


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O Estado

                                                                                                                                                                    
Sem entrar em detalhes, acho que o Estado não pode, nem deve ser o principal instrumento, ou meio, ou
sistema através do qual grupos, partidos, interesses, poderes, ideologias, religiões, se "governam" e "assaltam" ou "saqueiam" o chamado erário público. Tanto mais que o Estado já não tem formas, nem mecanismos, para se defender, por exemplo, dos efeitos externos e internos da globalização. O poder de controle dos governos sobre esses efeitos já não existe. Dir-se-ia que ainda bem, considerando o que referi acima. Mas isto é um liberalismo selvagem...


E há os que defendem o menos possível de Estado, que estão na primeira linha dos candidatos a cargos no Estado, dispostos a mandarem no Estado; e os que defendem o mais possível de Estado e o menos possível de liberdades individuais, que passam a vida à sombra do Estado Liberal...

Na realidade, o Estado, hoje, como sempre, é uma estrutura de dominação, que interessa a toda a gente, a uns mais do que a outros, sobretudo na dita democracia, em que tudo está racionalizado/legitimado/supostamente pactuado, e nenhum direito é teoricamente negado a ninguém, prevendo-se uma válvula de escape teórica para todas as situações críticas.

O funcionário público é um trabalhador como outro qualquer, inseguro e preocupado e subordinado à lei. Mas a classe política é uma classe à parte, uma verdadeira "classe", que pode fazer a lei, para si própria, a melhor possível, o que só é coisa vergonhosa e inconcebível na medida em que, também a faz para os outros, mas não é a mesma...
                                                                                                                                                                      

sábado, 15 de outubro de 2011

Indignai-vos

                                                                                                                                                                    

Não é racional esperarmos que os políticos actuais e os partidos actuais façam o que devia ter sido feito, mesmo antes do desvelar dos "buracos", que era encontrar as causas, os responsáveis e que fossem eles a suportar as consequências dos seus actos. Na realidade, eles não vão condenar-se a eles próprios. Mas todos sabemos que as dívidas do Estado não foram contraídas pelo cidadão comum, que sempre fez o que o obrigaram a fazer e pagou o que tinha de pagar. Quem geriu os dinheiros e o património do Estado, quem efectuou e assinou(?) as despesas é quem deve, em primeira linha responder. Quantas vezes teremos nós, cidadãos trabalhadores e contribuintes na fonte, de pagar contas que tão-pouco nos são minimamente explicadas e justificadas?

Que raio de ditadura "sagrada" é esta? E a maioria não está silenciosa.
Não podemos continuar à mercê de quem tudo fez para cairmos no abismo. A primeira medida necessária é afastar do poder todo e qualquer indivíduo que tenha feito parte dos partidos e dos governos dos últimos trinta anos. Continuam a repetir inocuidades para eles próprios, em vez de explicarem o que aconteceu, o que está a acontecer e como aconteceu. Quando eles falam, esperamos que digam algo mais do que aquilo que toda a gente está farta de saber. A segunda medida é dar-lhes a oportunidade de demonstrarem o que andaram a fazer enquanto membros dos órgãos políticos. A terceira é julgá-los. Ao mesmo tempo, apurar responsabilidades civis e criminais quanto à alegada dívida pública e aos chamados buracos.
O país e os interesses dos cidadãos não podem continuar nas mãos dessa gente. Ontem estávamos mal, hoje estamos muito pior e amanhã como é que estaremos?
As propaladas reformas deviam ter começado pelo sistema político, pelo aparelho político do Estado e pela defesa do Estado contra o "assalto" de poderosos interesses organizados.
Se o Estado e os seus órgãos de soberania não têm controle sobre os efeitos da globalização e estão "desarmados" contra pressões e mecanismos externos, então é tempo de repensar o Estado e os poderes. O perigo é fingir que tudo continua a funcionar como dantes.
Os nossos políticos nunca se pareceram tanto como hoje com actores que representam um triste e desacreditado papel.                                                                                                                                                                     

sábado, 16 de julho de 2011

Podemos saber

                                                                                                                                                           
Há imensas coisas que não sabemos, mas havemos de saber. É um capricho injustificado dizer «nunca podemos saber». Mas mesmo que assim fosse, a simples eventualidade de poderem ser verdade não pode deixar de manter-nos atentos e averiguadores. Quem poderia contribuir para alguma descoberta intercontinental se não desse margem para o desconhecido e a descontinuidade, preferindo religiosamente navegar à vista do que se sabe?

De qualquer modo, não há que forçar as coisas. Convencer os outros não me interessa e pode até ser demasiado fácil. O que me interessa verdadeiramente é convencer-me. No que respeita aos quês (porquês, para quês, e como) eles são da ordem do conhecimento, científico ou outro. É falaciosa a argumentação de que a ciência responde aos porquês e para quês da construção das pirâmides com a mesma aptidão com que responde aos porquês e para quês, por exemplo, da existência do Homem ou da existência de Deus. O que está em causa não é a aptidão da ciência para fazer perguntas e responder-lhes, mas sim para fazer certas perguntas e responder a certas perguntas.

Aliás, se um cientista falasse em conflito entre religião e ciência, isso quereria dizer, pelo menos, que a ciência era contestada e rejeitada. Ora, a ciência não conhece restrições nem constrangimentos que a forcem a ser o que não é. No dia em que a ciência entrar em conflito com a religião esta cederá. A religião tem como grande força a ciência, justamente porque não teme, antes encoraja a ciência, que lhe é essencialmente cara. Ninguém, mais do que um crente, aspira à verdade e ama a verdade. O que a ciência não pode é lamentar que a religião não lhe ensine aquilo que ela não sabe mas só ela tem obrigação de saber.
                                                                                                                                                                  

sábado, 2 de julho de 2011

Ciência e conhecimento



É abusivo reduzir conhecimento a ciência, como é abusivo reduzir o que quer que seja a conhecimento. Nada se deixa reduzir a conhecimento porque o conhecimento, a bem dizer, nem sequer existe. O método científico como método para obter conhecimento permite-nos conhecer, de certo modo, coisas e fenómenos, mas não de todos os modos possíveis ou prováveis. Permite-nos conhecer, até certo ponto, fenómenos como as religiões, a fé, as crenças, a matemática, a trovoada, o efeito do atrito no movimento dos corpos, etc..., mas não nos permite conhecer, por exemplo, como as coisas seriam se não fossem como são. Neste caso, se me faço entender, as nossas conjecturas ficarão à espera da confirmação pela experiência. De mais a mais a ciência e o método científico, não são senão isso, processos de linguagem e de pensamento cuja neutralidade afectiva, estética, valorativa, ética, há-de ser garantida. E não é assim porque não existam afectos, emoções, valores, sentidos. Então é porquê? Deixo a pergunta.
Com a mesma força, ou mais, com que o método científico exige neutralidade, as religiões exprimem e realizam os afectos, as emoções, os valores, os sentidos, a fé, as crenças. E não são menos racionais e inteligentes e essenciais ao homem. Por outro lado, se a ciência lograr explicar tudo, não será por isso que ficará em condições de tudo poder experimentar, ou sequer observar, porque as coisas são como são e não porque têm de ser como são.


sábado, 16 de abril de 2011

Nem tudo merece defesa

Se tudo é defensável, nem tudo merece defesa. A escolha é de cada um. A mim não interessa gastar o tempo senão com o que merece que o faça. Tratando-se de Fé, o diletantismo é quase sinónimo de infantil exibicionismo. Tolerável, é claro. Até pode ser daquelas partidas a feijões para ver quem leva a mão cheia. Mas uma vitória é sempre uma derrota, mais ainda em jogos de palavras e de diletância. Não conseguimos persuadir o "adversário". Nem a nós próprios. Quando muito, o júri. Pelos motivos e pelas razões que eles lá sabem.

Há coisas em que nunca terás razão e, embora te custe ouvir e mais admitir, revelam o teu carácter: os ataques injuriosos àquilo e àqueles de quem não gostas.
Dizer que discutes ideias e não pessoas é fácil, dizê-lo é um capricho como outro qualquer. Mas a questão não é essa.
De ideias, pouco. De pessoas muito, ou quase tudo.
Por si sós, as ideias não possuem valor nenhum. Sem as pessoas as ideias sequer existem.

quarta-feira, 30 de março de 2011

A verdade e a mentira



Uma religião ao ser perspectivada «de fora» é reduzida a objecto que,   enquanto tal, não lhe corresponde. O crente sabe que o essencial da sua   religião não é o que ele pensa, mas o que ele faz e sente e testemunha, não   apenas com palavras. Todo o pensamento se torna possível a todos, toda a   palavra pode ser por todos usada, mas a Verdade é virtude e não existe nas   palavras, nem nos livros, nem nas enciclopédias que explicam o que é a   Verdade. E é com a Verdade que o crente se confronta, não com a verdade de   uma fórmula, de um juízo ou de uma conclusão, mas com a virtude de ser   verdadeiro, em tudo. O cristão sabe que o amor é a verdade, o amor à verdade não é só o primeiro mandamento, mas é a Lei. E a verdade é Deus e Deus está no mais pequenino de nós. O amor à verdade pode não estar no cientista, no filósofo, no literato, no político, no investigador, mas está no cristão. Ou não está a ser cristão.
Aliás, aposto que, se Jesus Cristo não tivesse existido, o Novo Testamento,  enquanto texto inventado, ganharia uma importância que não lhe é  reconhecida. Enquanto texto inventado, ser-lhe-ia tributada uma atenção e um  valor que tem, mas por outras razões. Mas são os próprios evangelistas que  não se assumem senão como relatores.

Não obstante, tudo o que puder contribuir para desiludir e desenganar e deitar  por terra a mentira é bem vindo a quem não desespera da causa da verdade,    que só teria a desesperar da causa da mentira e dos mentirosos. 


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Dogmas



De quando em quando a quem
Preza ciência filosofia e arte
E como discípulo estuda
Em busca de verdade
E interroga serenamente
A realidade e os saberes
Deparam-se peremptórios
Ateus agressivos
Com os dogmas do partido
Do ateísmo militante
(E seus deveres )
Querendo abolir por decreto
Todos os mistérios
Proibir a filosofia e a investigação
Por inúteis e supérfluas
As artes e a religião
Por serem ignorâncias
Não saberes
E isto acontece
No século XXI da era cristã
Em que a humanidade
Com inteligência e mente aberta
Aspira à descoberta
Da Verdade.